terça-feira, 28 de julho de 2015

001 - Roubando umas letrinhas de sua atenção.

Olá a tod@s!
Sejam bem-vind@s à minha Biblioteca, um local onde pretendo falar sobre um livro por mês - trocar impressões sobre a Sexta Arte (EU SEI que é só a poesia, mas o blog é meu e também considerarei prosa, diário, livro técnico... até bula de remédio, se me der na veneta!!!) e seus/suas oficiantes, e, talvez, até puxar assuntos outros que a obra em questão puder chamar à minha cachola.
Será que esta nova empreitada perdurará? Ler um livro (ou mais, até) por mês é até fácil (a depender da quantidade de páginas a ler e de afazeres), mas DISCORRER sobre um livro por mês... Hmmmmmmmm... Não sei - mas se eu não tentar, não saberei jamais, não é, gente? Enfim, espero ter tod@s vocês comigo, por aqui - e também na minha Filmoteca e na minha Discoteca, todas abrindo hoje, também!

Sendo assim, podemos iniciar os trabalhos. Decidi abrir minha Biblioteca com uma memória afetiva relativamente recente: o primeiro livro de ficção que li após a formatura em Arquitetura e Urbanismo. O título do post já deu alguma pista?

Fonte da imagem: https://daliteratura.wordpress.com/

Título: A Menina que Roubava Livros
Título Original: The Book Thief
Autor: Markus Zusak
Tradução (Português Brasileiro): Vera Ribeiro
Editora: Picador
Editora (Brasil): Intrínseca
Número de Páginas (Brasil): 480
Data de lançamento: 2005
Data de lançamento (Brasil): 15/02/2007
Eu acredito piamente que leitores se identificam e se aproximam, mesmo que a milhares de quilômetros de distância. E quando lemos um livro sobre uma leitora contumaz? Uma pessoa tão ávida por conhecimento que rouba livros nas mais variadas situações? Encontrar uma história tão preciosa assim foi a primeira parte do que torna esta obra tão especial para mim.
Minha afilhada, a mesma que disse um dia que eu parecia um vampiro porque meus olhos têm a cor amarela (eles são cor-de-mel, não amarelos!!!), viu este livro, e se recusou a lê-lo. Não pela grossura (digamos que ela é preguiçosa pra cara...mba não é chegada em leitura e estudo), mas pela simples palavra MORTE. Significa, então, que a Morte é motivo suficiente para por uma obra literária no Index pessoal da garota. Mas assistir "Premonição" é de boa, né? OK...
Fonte da imagem: http://gibiblioteca.zip.net/
Embora dona Morte esteja presente no livro, e leve muita, MUITA gente, é tudo completamente compreensível, dados os acontecimentos retratados na narrativa - aliás, ela é presentíssima a todos nós: ELA É A NARRADORA! Se o livro se trata dum período de guerra, nada mais apropriado que a própria para mostrar que ela esteve lá, sempre presente e quase palpável. Inclusive para nos questionar sobre nossa própria moralidade: quem somos nós, e o que fazemos aqui, pensando em quando ela vier nos buscar para a passagem? Será que estamos fazendo as coisas certas nesta vida?
Enfim, deixemos de enrolar e vamos à história: Liesel Meminger é uma menininha perdida num ambiente inóspito: a Alemanha nazista em plena Segunda Guerra Mundial. Seu irmãozinho faleceu doente numa viagem de trem a caminho de Munique, e sua mãe precisou fugir do país, deixando-a para ser adotada pelos Hubermann (Hans, o pai, ex-combatente da Primeira Guerra, calmo, acolhedor e talentoso acordeonista; Rosa, a mãe, lavadeira, dura, de difícil convivência, mas amorosa a seu modo), indo morar na rua Himmel (que vem a ser CÉU em alemão), na cidade de Molching. Lá, irá à escola todos os dias, fará amizades (em especial, Rudy Steiner, seu fiel escudeiro, sempre em busca de um beijo), crescerá, aprenderá a ler e escrever com Hans e, claro, roubará um livro ou outro por aí (obviamente que não darei detalhes sobre esses roubos - embora pareçam ser coisas menores mesmo dando o título do livro, eles são parte estratégica da narrativa).
Um ponto que me chamou a atenção demais foi perceber que, assim como existe gente contente e descontente com a política de nossa Presidente, também havia as pessoas descontentes com os rumos políticos da Alemanha nazista. Refletindo melhor, a analogia seria melhor feita se comparássemos a situação retratada na Alemanha nazista com o Brasil da ditadura militar. Havia desde os defensores orgulhosos - e perigosíssimos - aos insatisfeitos, com ou sem medo de expressar sua insatisfação vocalmente. Em ambos os casos, expressar-se contrário era quase o mesmo que colocar a corda no próprio pescoço enquanto se equilibra em um banquinho. Hoje, se as pessoas podem se juntar e manifestar seu descontentamento - ou sua ignorância ou ideias heterodoxas e potecialmente bélicas e/ou estúpidas -, palmas à democracia por isso! Lembremos: na Alemanha nazista, o conceito de democracia era bem incipiente, e numa ditadura declarada como a que assolou os países da América Latina, liberdade de expressão era sonho e democracia era mero conceito... E ainda há salgadinhos de festa infantil acreditando que aquele tempo é que era bom...
Na narrativa, essa insatisfação popular se reflete de modo bem sutil em pequenas atitudes dos Hubermann e de Rudy, nunca vocalmente ativos, mas de atitudes subversivas - a maior delas, óbvio: acolher Max Vandenburg, um judeu, escondido por meses. Dá pra imaginar quanta gente (não apenas Schindler) deve ter tomado tais atitudes naquela época para tentar ajudar outros? Dá pra imaginar quantas outras não devem ter se submetido ao nazismo por puro e simples medo de serem presos e executados? Esse tipo de perspectiva é arrepiante.
A segunda parte do que torna esta obra tão especial para mim é a escrita sensível e envolvente de Zusak, que parece fazer questão de mostrar sempre o poder da PALAVRA. Especialmente em tempos sombrios, ela nos traz esperança e nos mostra que estamos vivos - caso de Max. Mais que nos educar e nos letrar, ela nos consola e fortalece - como Liesel tanto precisará ao longo da história. Como disse uma personagem da novela "Cordel Encantado": é a palavra que nos tira da escuridão em que nem sabemos que estamos. Lendo e escrevendo, colocamos nossa alma no papel e podemos refleti-la no mundo, construímos nossa personalidade e nossa identidade, assim como Liesel faz, com a ajuda de Hans e Max.
Fonte da imagem: http://en.wikipedia.org/
Em tempo: eu sei que existe o filme baseado no livro. Mas me recusei deliberadamente a vê-lo. Eu tenho minhas imagens bem vívidas, e tenho medo do que pode ocorrer com elas após ver a visão de outra pessoa (e a pior parte: suas adaptações - sim, eu sou purista, pronto, confessei) sobre a obra. Não digo que NUNCA verei. Mas digo que HOJE, NÃO.
A terceira parte do que torna esta obra tão especial para mim é que foi um presente inusitado para se ganhar em uma formatura. Terminando Arquitetura e Urbanismo, você espera receber canetas, livros de Arquitetura ou de Urbanismo... não um romance. Adivinhem o presente do qual usufruí primeiro? Foi no dia 16 de março de 2008 que Markus Zusak entrou na minha vida, e em uma semana esta obra estaria finalizada. Desde então, revisitei dona Morte umas quatro ou cinco vezes (hmmmmmmm... talvez, seja hora de uma quinta ou sexta).

E agora, após uma longa gestação, COMEÇOU! Está aberta a Biblioteca do Tom! Espero que vocês tenham gostado da proposta, e voltem todos os meses! Não se esqueçam de comentar, pois eu sou muito carente, hein?
Até daqui a trinta dias, com a segunda obra literária!