sábado, 26 de setembro de 2015

003 - Heathcliff, Sou Eu, Cathy! Volte pra Casa! Estou com Tanto Frio...

Hoje é um dia que traz uma oportunidade especial - um dia em que coincidiu de tanto a Biblioteca quanto a Discoteca têm postagens novas para vocês! Então, surge uma oportunidade maravilhosa para buscar um livro legal e uma música que nasceu inspirada por ele - ou, quem sabe, um livro que tenha surgido de uma música legal. Poderia eu perder este tipo de oportunidade? MiniTom discorda - e eu concordo com ele!
Então, sem mais delongas, vamos ao livro de hoje!

Fonte da imagem: http://melodyandwords.com/

Título: O Morro dos Ventos Uivantes
Título Original: Wuthering Heights
Autor: Emily Brontë
Editora: Thomas Cautley Newby
Número de Páginas: 400
Data de lançamento: 1847
Vou começar com um aviso: este post será BEM LONGO - e culpem Tânia Rosa por isso! Ela que sugeriu esta postagem conjunta com a Discoteca - tá, a culpa é minha, por achar que esta era uma boa idéia! Ao menos, vocês tod@s têm um mês inteiro para ler isto aqui (dá até pra ler o blog inteiro, neste período) - por favor, não me abandonem! O motivo? Emily Brontë inventou de escrever um dos romances mais apaixonados e complicados de entender que eu já li - eu, mesmo, o li três vezes para ter um entendimento decente de tudo o que ocorre e dos laços que se formam. Tentarei ser curto e objetivo (embora eu creia que não seja possível) com uma obra tão densa e cheia de gente e acontecimentos importantes! Mas bora lá, segurem as perucas!
Fonte da imagem: https://en.wikipedia.org/
Para começar, devo falar sobre as irmãs Brontë: Charlotte (1816 – 1855), Emily (1818 – 1848), e Anne (1820 – 1849). As três tinham uma produção prolífica de poemas e novelas. Como tantas outras escritoras da época, elas assinavam com psudônimos masculinos (os "também irmãos" Currer, Ellis e Acton Bell) para terem mais chance de serem publicadas - e se tornaram conhecidas pela originalidade e passionalidade de seus escritos. A primeira a atingir o sucesso foi Charlotte/Currer, com "Jane Eyre". Mais tarde, "A Inquilina de Wildfell Hall" de Anne/Acton e O Morro dos Ventos Uivantes de Emily Brontë/Ellis Bell conseguiram boas vendagens. A recepção à época não foi das melhores, mas hoje todas são consideradas obras-primas da literatura inglesa. Com o tempo, os estudiosos do século XX vieram a considerar O Morro dos Ventos Uivantes como a melhor das obras das irmãs Brontë. Pessoalmente, eu não sei, porque não li nenhum dos outros livros de qualquer delas. Mas que sua influência é imensa é inegável, dada a quantidade de versões para televisão e cinema, peças teatrais (uma delas, um musical), músicas (não se esqueçam de visitar a Discoteca, hein?) de e até um jogo de videogame que foram feitas a partir da obra.
Fonte da imagem: https://en.wikipedia.org/
O Morro dos Ventos Uivantes trata da saga de amor, ódio e muita amargura de Heathcliff pelas famílias Earnshaw e Lindon - mais especificamente por Catherine Earnshaw, por quem sentimentos tão polares e não raro violentos não cessam nem com a morte. Toda a ação se concentra nas propriedades Wuthering Heights e Thrushcross Grange, nas charnecas de Yorkshire, no norte da Inglaterra, e se divide em três atos.
O primeiro ato trata da infância e adolescência de Heathcliff ao ser adotado pelo senhor Earnshaw, proprietário de Wuthering Heights, e a convivência com seus irmãos de criação: o amor nascente e crescente por Catherine e o bullying pesado sofrido por Hindley, até as humilhações e rejeições sofridas nas mãos dos irmãos e da família Linton, proprietários da vizinha Thrushcross Grange, após a morte do patriarca - levando-o a fugir de Yorkshire prometendo nunca mais passar fome vingança contra tudo e todos que o machucaram e fazendo fortuna em Londres, retornando Carolina Ferrazmente rico e cheio de sangue nuzóio disposto a fazer a desforra exigida por seu coração rancoroso.
O segundo ato trata dos efeitos do retorno de Heathcliff sobre os Earnshaw e os Linton. Sua vingança sobre eles continua, mesmo com as mortes dos irmãos Earnshaw (não, ele não seguiu os ensinamentos da "grande pensadora contemporênea"), com sua tomada da propriedade de Wuthering Heights e suas maquinações sobre os destinos dos filhos deles - um deles, seu próprio - como finalização de seus planos.
Fonte da imagem: http://gibiblioteca.zip.net/
O terceiro ato lida com o preço pago por Heathcliff por ceder ao rancor e ter se tornado um homem amargo - as mortes ao seu redor continuam (e não é que a dona Morte continua aparecendo nesse blog? Que moça onipresente, pessoal!), a loucura passa a dominá-lo e o espírito de Catherine aparece para visitá-lo e, talvez, finalmente consumarem o amor que lhes foi negado pelas suas próprias escolhas.
Como eu falei antes, O Morro dos Ventos Uivantes é um livro difícil de ser lido. A estrutura é feita de narrativas-em-uma-narrativa - tratam-se dos diários do senhor Lockwood, locatário de Thrushcross Grange, que incluem anotações diretas do diário de Catherine Earnshaw e os relatos Ellen 'Nelly' Dean, criada dos Earnshaw - com uma riqueza de detalhes impressionante, diga-se de passagem, tanto dela ao relatar um passado tão distante, quanto dele ao recordar as palavras ditas por ela numa narrativa tão grande. A procissão de personagens é enorme, e por vezes tive que voltar algumas páginas pra me situar novamente. Fora que muitas linhas são gastas com detalhes espaciais - como as novelas de José de Alencar. Eu não me dou com esse tipo de literatura, de modo algum - acho um desperdício de parágrafos, tinta, papel e paciência do leitor ávido por ação. Mas em O Morro dos Ventos Uivantes, devo dizer que (em parte) é necessário. Emily Brontë fez de Wuthering Heights e Thrushcross Grange personagens onipresentes no livro, ao invés de meros cenários para a ação.
Fonte da imagem: https://en.wikipedia.org/
Comentários críticos de Nelly sobre o comportamento diabólico de Catherine e Heathcliff (sim, a palavra é essa - os dois são o demo encarnado!), que só parece piorar com o tempo, parece tornar o par irresponsável e merecedor de qualquer punição que eles recebem. Nelly apoia seu ponto de vista com as opiniões dos Edgar Linton e Hindley Earnshaw: ambos desprezam Heathcliff e se tornam frustrados com Catherine; e ela retrata o casal apaixonado como dois ingratos e rancorosos. Vários outros personagens julgam bem mal o relacionamento dos dois - mas desde quando relatos de uma pessoa (ainda mais quando tais relatos já são repassados por uma terceira) são inteiramente confiáveis? Ainda mais quando há tanto julgamento sobre os fatos (que podem nem ter acontecido EXATAMENTE como relatados, visto que o testemunho compreende um espaço de décadas.
Fonte da imagem: http://homemcr.org/
Talvez toda a perseguição que a jovem Earnshaw e Heathcliff sofrem em O Morro dos Ventos Uivantes seja um modo da autora forçar uma identificação juvenil com o casal - afinal, ninguém acredita neles, a não ser eles mesmos. Mas uma coisa que não entendo até hoje é um par de pessoas tão egoístas e cruéis um com o outro se amar tanto. Este tipo de amor imortal, obsessivo (e que se torna mais urgente e estranho pelo fato de não ter sido consumado) escapa à minha compreensão. Brontë retrata um amor que persiste (e aumenta), mesmo com tudo o que ocorre. Venhamos e convenhamos: relacionamentos entre pessoas tão destrutivas quanto Catherine e Heathcliff nunca acabam bem - basta ver qualquer programa desses de mundo-cão.
O Morro dos Ventos Uivantes foi o primeiro - e único - romance de Emily Brontë. Ela viria a falecer de tuberculose meros meses após a publicação deste romance. Ela estava a escrever um segundo romance, mas os manuscritos nunca foram encontrados. Mais um fato que adiciona à aura que a cerca. Um mistério a mais para a moça mais misteriosa das irmãs, que escreveu um livro de teor tão gritante e ao mesmo tempo tão misterioso.
Fonte da imagem: http://gifsgallery.com/

Cathy se despede!